MANUELZÃO E MIGUILIM

1. (UNICAMP) Mas, a mal, vinha vesprando a hora, o fim do prazo, Miguilim não achava pé em pensamento onde se firmar, os dias não cabiam dentro do tempo. Tudo era tarde! De siso, devia de rezar, urgente, montão de rezas. (João Guimarães Rosa, “Campo geral”, in “Manulezão e Miguilim”. Rio de Janeiro, Editora José Olympio. 1972.)
a) O trecho acima refere-se a uma espécie de acordo que Miguilim propôs a Deus. Que acordo era esse?
b) Sabendo-se que o acordo se relaciona às perdas sofridas por Miguilim, cite as duas que mais profundamente o marcaram.
c) Se “vesprando” deriva de “véspera”, que se associa a Vésper (Estrela da Tarde), como se deve interpretar “vinha vesprando a hora”?
RESPOSTAS:

a) Seu Deográcias, espécie de curandeiro que perambulava pelo Mutum, diagnosticara que Miguilim, fraco, abatido, corria risco de vida, de contrair tuberculose. Primeiramente, o menino recorre à negra Mãitina, mas desiste ao encontrar bêbada a velha mandingueira. Volta-se para Deus e faz uma espécie de trato: se tivesse de morrer, que fosse no prazo de três dias, dilatado mais tarde, para dez dias, para permitir uma “novena” de rezas. Se não morresse que, por vontade de Deus, ficasse curado.

b) As duas perdas que mais profundamente marcaram a “travessia” de Miguilin do mundo mágico da infância para o mundo adulto foram as experiências com a morte: a do pai, que se suicidou, e a do irmão mais querido, o Dito, vitimado pelo tétano. A superação dessas duas perdas foram instantes dolorosamente decisivos no amadurecimento da criança no embate com fatos da vida.

c) O neologismo “vesprando” sugere tanto a noção mais imediata de aproximação temporal, de “fazer-se véspera”, como também nos remete à ideia de “anoitecer” e, metaforicamente, “de morrer”, associada à “noite” que a estrela Vésper prenuncia.

2. A novela de Guimarães Rosa “Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)”, além de ser ela própria uma estória de vaqueiro, contém outras estórias de boi narradas pelas personagens. Uma delas é a de “Destemida e a vaquinha Cumbuquinha” narrada por Joana Xaviel. Ao ouvirem a história, as pessoas presentes na festa de Manuelzão têm a seguinte reação: Todos que ouviam, estranhavam muito: estória desigual das outras, danada de diversa. Mas essa estória estava errada, não era toda! Ah ela tinha de ter outra parte – faltava a segunda parte? A Joana Xaviel dizia que não, que assim era que sabia, não havia doutra maneira. Mentira dela? A ver que sabia o restante, mas se esquecendo, escondendo. Mas – uma segunda parte, o final – tinha de ter! (João Guimarães Rosa, “Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)”, em Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p.181.)

a) Por que os ouvintes têm a impressão de que a estória está inacabada?

b) Cite outra estória de boi narrada dentro novela.

 c) A novela é narrada em discurso indireto livre, misturando as falas e pensamentos das personagens com a fala do narrador. Identifique uma passagem do trecho citado acima em que essa mistura ocorre.

RESPOSTA

a) Joana Xaviel conta a história de Destemida, esposa grávida de um vaqueiro, que tem vontade de comer a vaca de propriedade de um homem rico. O marido atende-lhe o desejo e é descoberto pela mãe do proprietário da vaca. Destemida envenena a mulher e, depois, coloca fogo na casa onde a morta era velada. Os ouvintes da narração de Joana acreditam que a história “tinha de ter outra parte”, pois esperavam um desfecho em que houvesse a punição do mal, no caso, representado pela personagem Destemida.

b) “Romanço do Boi Bonito” ou “Décima do Boi e do Cavalo”.

c) Podem ser citadas as seguintes passagens narradas em discurso indireto livre: “Mas essa estória estava errada, não era toda! Ah ela tinha de ter outra parte – faltava a segunda parte?”, “Mentira dela?”, Mas – uma segunda parte, o final – tinha de ter!”

3. (ENEM) :Miguilim

“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
– Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
– Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
– E o seu irmão Dito é o dono daqui?
– Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro.
Redizia:
– Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda… Mas que é que há, Miguilim?
Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.
– Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?
– É Mãe, e os meninos…
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: – ‘Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”(ROSA, João Guimarães. “Manuelzão e Miguilim”. 9 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.)
Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:
a) “O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”
b) “Ele era de óculos, corado, alto (…)”
c) “O homem esbarrava o avanço do cavalo, (…)”
d) “Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (…)”
e) “Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”

4. (UFRGS) Assinale a alternativa correta a respeito dessa obra de Guimarães Rosa.

a) O ponto de vista da criança mostra o encantamento com o mundo adulto, que é entrevisto pelo leitor através do olhar míope e infantil de Miguilim, que deseja crescer depressa.

b) Tio Terez e Nhô Berno disputam o amor de Nhanina, que decide se casar com o primeiro. (C) Dito, em uma brincadeira no meio do mato, corta o pé num caco de pote, fica muito doente, mas sobrevive para felicidade de todos que muito celebram na noite de Natal.

c) Dito, ao aconselhar Miguilim a sempre estar alegre por dentro, representa a sabedoria inata, capaz de carregar uma lição de vida .

e) O leitor, através do olhar infantil, percebe a harmonia entre os pais de Miguilim e o grande amor do pai pela mãe.

5. (ENADE) Considere a obra Miguilim, de Guimarães Rosa, da qual se extraiu o seguinte fragmento: Tio Terêz deu a Miguilim a cabacinha formosa, entrelaçada em cipós. Todos eram bons para ele, todos do Mutum. O doutor chegou: — “Miguilim, você está aprontado? Está animoso?” Miguilim abraçava todos, um por um, dizia adeus até aos cachorros, ao Papaco-o-paco, ao gato Sossõe, que lambia as mãozinhas se asseando. Beijou a mão da mãe do Grivo. — “Dá lembrança ao seu Aristeu… Dá lembrança ao seu Deográcias…” Estava abraçado com Mãe. Podiam sair. ROSA, J.G. Manuelzão e Miguilim: duas novelas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964, p. 103 (com adaptações). Considerando o fragmento acima, assinale a opção que apresenta excerto referente à obra Miguilim

a) O outro reino, em que se esconde, ou se procura o Menino, é requintado, interiorista, respira mistério, levita na intemporalidade, mora ou pervaga numa estranha mansão (…) Trata-se, é bem de ver, da recorrência de uma primeira contemplação inefável de categoria intimista. LISBOA, H. O motivo infantil na obra de Guimarães Rosa. In: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL 1983, p. 178.

b) O deslocamento espacial é o rito de passagem — ‘o atravessar o bosque’—, que se dá no meio do percurso entre as duas aldeias, separadas pela imprevisibilidade do ‘quase’: uma outra e quase igualzinha aldeia. MOTTA, S. V. O engenho da narrativa e sua árvore genealógica: das origens a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. São Paulo: UNESP, 2006. p. 466.

c) O Menino é uma criança qualquer a brincar com o seu macaquinho e é uma espécie de criança mítica, através de quem tudo se ordena, tudo se corresponde, tudo se completa. NUNES, B. O amor na obra de Guimarães Rosa. In: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983, p. 162.

d) Ao drama de ordem pessoal e à tragédia inelutável, segue-se o conflito com a força maior, representada pelo domínio paterno contra o qual se insurge o menino, ferido nos brios. A represália do pai é tremenda. LISBOA, H. O motivo infantil na obra de Guimarães Rosa. In: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983, p. 175.

e) (…) impregnado pela religiosidade da mãe e pela aura mística dos ‘milagres’, a solução do conto conduz para a leitura fácil de se explicar pela fé a tragédia que não se atina com a razão. MOTTA, S. V. O engenho da narrativa e sua árvore genealógica: das origens a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. São Paulo: UNESP, 2006, p. 449.

6. Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a novela “Campo geral” (“Miguilim”), de Guimarães Rosa:

I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva para o aprendizado de Miguilim, seja nas experiências imediatas do cotidiano, seja na investigação do valor e do sentido profundos dessas experiências.

II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos mostra que a vida rústica do sertanejo é pobre como experiência – o que pode ser compensado pela imaginação poética de quem sabe desligar-se daquela vida.

III. No momento final da narrativa, é em sentido literal e simbólico que um novo mundo se revela para Miguilim – mundo que também se abre para uma vida de novas experiências.

A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:

a) as afirmações I e III são corretas.

b) as afirmações I e II são corretas.

c) as afirmações II e III são corretas.

d) a afirmação II é correta.

e) a afirmação III é correta.

7. (UFG) Após a leitura do livro “Manuelzão e Miguilim”, de Guimarães Rosa, nota-se que há uma ressignificação de elementos definidores do regionalismo tradicional. Nesse sentido,
( ) o sertão é concebido tanto como um espaço sem limites geográficos rigorosos quanto como um território marginal à civilização moderna, distanciando-se, assim, do mundo histórico-referencial.
( ) a linguagem resulta de um minucioso inventário folclórico-popular, uma vez que o autor valoriza a palavra apenas como registro documental e ignora outras fontes culturais que poderiam revigorar o arsenal linguístico à sua disposição.
( ) a densidade psicológica do sertanejo deriva de um alheamento social e moral em relação ao meio do qual provém, uma vez que o matuto se encontra colado arbitrariamente ao universo rural.
( ) a questão da identidade nacional renasce como pano de fundo relevante, em que se vislumbra, na obra do escritor, a perpetuação de uma herança nativista ultrapassada.
RESPOSTA: V F F F

8. (UFRGS) No bloco superior abaixo, estão listados cinco nomes de personagens da obra de Guimarães Rosa; no inferior, descrições de três desses personagens. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1 – Bernardo Caz (Nhô Berno)

2 – Liovaldo

3 – Dito

4 – Tio Terez

5 – Osmundo Cessim

( ) Pai do menino protagonista.

( ) Irmão mais novo do menino protagonista.

( ) Irmão mais velho do menino protagonista. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1-5-3.

b) 4-5-1.

c) 2-3-4.

d) 2-5-3.

e) 1-3-2.

9. (UFG) Diversos motivos narrativos compõem a trama de “Campo geral”, texto da obra “Manuelzão e Miguilim,” de Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo principal para a composição do enredo desse conto?
a) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim.
b) A instabilidade sentimental da mãe de Miguilim.
c) A observação do mundo pela ótica de Miguilim.
d) A rivalidade entre Tio Terez e o pai de Miguilim.
e) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim.

10. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre sentimentos de personagens de Campo Geral, da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. ( ) Miguilim odiava seu Pai, pela violência das surras e castigos que ele lhe impunha: mandar embora a cadela, ou soltar os passarinhos que estavam nas gaiolas.

( ) As rezas da avó e os feitiços de Mãitina enfim surtiram efeito: Miguilim passou a se sentir culpado pela morte do irmão.

( ) Miguilim detestava o Mutum, mas, com a ajuda dos óculos do doutor, acabou finalmente descobrindo que se tratava de um lugar bonito.

( ) Dito sentiu inveja de Miguilim porque Papaco-o-Paco era capaz de dizer ” -Miguilim, Miguilim, me dá um beijim”, mas não conseguia pronunciar “Dito”. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) F – V – F – F.

b) F – V – F – V.

c) V – V – F – V.

d) V – F – V – V.

e) V – F – V – F.

11. (UFG) O que aproxima a ficção de Guimarães Rosa, em “Manuelzão e Miguilim”, e a de Milton Hatoum, em “Dois irmãos”, é a utilização das conquistas da narrativa moderna a serviço do enredo, verificada, entre outras razões, na
a) apresentação de um quadro sócio histórico instável.
b) consonância entre a linguagem e a interioridade da personagem.
c) utilização de uma temática associada à dimensão regional.
d) valorização de fontes híbridas da cultura brasileira.
e) visão crítica dos fatos sociais por um viés implícito.

12. (UNICESUMAR) Dentre as conquistas promovidas pelo modernismo da década de 1920, permanecem a valorização do cotidiano, reforçada pelo uso da linguagem coloquial, e a pesquisa das raízes históricas e culturais do Brasil. Observa-se em Campo Geral (Miguilim), de Guimarães Rosa, a presença desses traços na caracterização de personagens típicos da cultura popular brasileira, como

a) a menina mimada que se expressa assim: Preciso de sapatos novos! Os meus fazem muito barulho […].

b) o pai de família autoritário que se expressa assim: Se você mandar matar esta galinha nunca mais como galinha na minha vida!

c) o médico charlatão que se expressa assim: a homeopatia é a verdade, e, para servir à verdade, menti; mas é tempo de restabelecer tudo.

d)) o curandeiro brincalhão que se expressa assim: tem susto não: com as ervas que sei, vai ser em pé um pau, garantia que dou, boto bom!…

e) o coronel decadente que se expressa assim: A facção dominante está caindo de podre. O país naufraga, seu doutor. É o que lhe digo: o pais naufraga.

13. (ITA) Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.
– Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim…
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.
– Olha, agora!
Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo… O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante.
(João Guimarães Rosa. MANUELZÃO E MIGUILIM.)
Considere as seguintes afirmações sobre o trecho acima:
I. Na narrativa, transparece o universo infantil, captado pela ótica da criança.
II. Há o uso de recursos linguísticos, como ritmo, rima e figuras de linguagem, que desfazem as fronteiras entre prosa e poesia.
III. A narrativa reporta ao mundo rústico do sertão pela ótica de um narrador externo à comunidade.
Está(ão) condizente(s) com o trecho:
a) apenas I.
b) apenas II.
c) I e II.
d) I e III.
e) II e III.

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